Desde o último final de semana, o Rio Grande do Sul vive mais um episódio de chuva intensa, com registros de inundações, alagamentos e risco de enchente pela rápida elevação dos rios. Até a tarde desta quarta-feira, 18, 58 municípios já haviam reportado danos a Defesa Civil estadual em função do alto volume de chuva.
Mesmo sem a influência do fenômeno El Niño, que costuma trazer chuva extrema para o RS, cidades da Região Central registraram mais de 300 mm de chuva nos últimos dias. Segundo a MetSul Meteorologia, há outros fatores que contribuem para o cenário atual: bloqueio atmosférico, frente semi-estacionária, jato de baixos níveis e gradiente de temperatura.
Abaixo, entenda o impacto dos fenômenos.
Bloqueio atmosférico impede avanço de frente fria e massas de ar
Um bloqueio atmosférico é uma configuração persistente da circulação atmosférica que impede o avanço normal das frentes frias e massas de ar. Ele ocorre quando sistemas de alta pressão ficam estacionados por vários dias ou até semanas sobre uma determinada região.
Essa barreira atmosférica dificulta a movimentação dos sistemas meteorológicos, como ciclones e frentes, alterando o padrão típico do tempo.
Durante um bloqueio, áreas sob a influência direta do sistema de alta pressão costumam ter tempo seco, quente e com pouca nebulosidade, especialmente no outono e inverno.
Já nas bordas do bloqueio, podem ocorrer chuvas persistentes ou temperaturas abaixo da média, dependendo da época do ano.
No momento, atua um bloqueio atmosférico associado a um circulação anticiclônica na altura do Sudeste do Brasil em altitude. Por isso, o tempo está firme e seco com elevação da temperatura no Sudeste e no Centro-Oeste do Brasil, enquanto no Rio Grande do Sul chove muito com uma frente bloqueada.
Frente semi-estacionária
Com o bloqueio atmosférico, frentes frias não conseguem avançar pelo Sul do Brasil. Como efeito, estados como Santa Catarina e o Paraná não estão sofrendo os efeitos da instabilidade com predomínio do tempo firme na maioria das cidades dos dois estados.
É o que explica também porque mais ao Norte do RS, perto da divisa com Santa Catarina, tem chovido muito menos.
A frente fria que chegou ao RS não consegue furar o bloqueio e passou à condição de semi-estacionária sobre o estado, despejando chuva por dias seguidos quase na mesma área e com muito altos volumes.
Corredor de vento traz ar quente para o RS
Desde ontem uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera atua no RS e transporta ar quente para o estado, alimentando a formação de nuvens muito carregadas com temporais e chuva forte.
Em resumo, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura.
Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera que se origina na Bolívia e traz ar quente para o estado.
Estado entre duas massas de ar
Uma vez que há um bloqueio atmosférico e o RS se encontra na borda, o estado está, neste momento, entre duas massas de ar com características distintas: uma quente ao Norte e outra fria ao Sul.
Há, assim, uma condição de diferença de temperatura (gradiente térmico) que estimula a instabilidade sobre o território gaúcho, associado à atuação da frente em condição semi-estacionária.
O gradiente térmico estava presente no evento de chuva extrema que levou à enchente de maio de 2024, mas de forma muito mais intensa.
À época, uma forte onda de calor assolava o Centro do Brasil enquanto na Argentina o frio era muito intenso com marcas historicamente baixas na Patagônia.
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FONTE: Correio do Povo