Iniciou na manhã de quinta-feira (13), no Foro da Comarca de Coronel Bicaco, o júri do homem acusado pelo estupro e morte de uma menina caingangue, de 14 anos, ocorrida na madrugada do dia 1º de agosto de 2021, em uma área de lavoura no município de Redentora.
Após a oitiva das testemunhas e interrogatório do réu, finalizado por volta das 21h, julgamento tem prosseguimento nesta sexta-feira (14). O júri é presidido pela Juíza de Direito Ezequiela Basso Bernardi Possani, titular da Vara Judicial da Comarca de Coronel Bicaco.
Após o sorteio dos sete jurados (quatro mulheres e três homens) que compõem o Conselho de Sentença, foram iniciados os depoimentos das 11 testemunhas previstas. Todas falaram. A retomada aconteceu nesta manhã, às 9h, com a fase de debates entre acusação e defesa, que terão uma hora e meia cada para apresentar suas teses aos jurados.
Familiares da vítima, Daiane Griá Sales, de 14 anos, e do réu acompanham o julgamento no local. Representantes da comunidade indígena e movimentos sociais também se fizeram presentes.
Juíza Ezequiela durante o sorteio dos jurados, atividade que abriu os trabalhos do júri. (Foto: Juliano Verardi/DICOM-TJRS)
Testemunhas
Quem testemunhou primeiro foi o inspetor Neves Bastos Mello, via online. Ele recebeu pela Polícia Civil o aviso de pessoas da comunidade indígena de que o corpo havia sido achado em uma área de lavoura. Segundo ele, o local era de difícil acesso, e que seria preciso conhecimento para chegar. Disse que não houve comunicação de desaparecimento da menina, apenas o registro da descoberta do corpo, e que já haviam pessoas no local quando chegou.
O depoimento mais longo foi do delegado que conduziu as investigações, Vilmar Schaefer. Por cerca de duas horas ele deu detalhes da investigação que chegou ao indiciamento do réu, trabalho realizado por uma força tarefa que reuniu policiais civis da região durante 40 dias. “Todas as linhas de investigação foram consideradas, pessoalmente gerenciei tudo isso”, disse. Segundo ele, quase 100 oitivas foram realizadas.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, a vítima foi estrangulada pelo réu e morreu por consequência da asfixia. Ainda, segundo o MP, o réu encontrou com a vítima em uma localidade de Redentora, onde aconteciam bailes. Depois que ela aceitou a carona, que também fora oferecida a outras meninas indígenas, o acusado dirigiu até o local dos crimes.
A morte teria acontecido na sequência dos atos pelos quais o réu cometeu o crime sexual, aproveitando-se do estado de embriaguez da menina, impossibilitada de reagir, usando de violência, com toques e beijos, apoiando-se sobre ela, conforme a denúncia. Segundo o MP, o corpo da vítima foi achado mais de três dias depois dos fatos, em um matagal.
Durante o depoimento, o Delegado citou as razões para a convicção na autoria dos crimes, entre elas o fato dos álibis do acusado para a noite dos fatos serem inconsistentes. “Todos os álibis que nos trouxe foram derrubados”, afirmou o Delegado. Ele mencionou também provas testemunhais dando conta de que o acusado teria dado carona para a menina, e acrescentou: “Na medida que surge o vestígio genético dele no corpo da vítima, evidente que ele teve contato com a vítima. Não tinha como os indícios não apontarem para ele”, afirmou.
A mãe da vítima, Julia Giriá, também prestou depoimento, na condição de informante. Com auxílio de uma intérprete, por não ter fluência na Língua Portuguesa, a indígena disse que viu a filha pela última vez no sábado – a morte ocorreria na madrugada do domingo -, e que achava que ela voltaria logo, mas não voltou mais.
Ela lembrou que foi avisada da morte por uma foto que lhe foi enviada, e não acreditou porque não reconheceu que era Daiane. Não chegou a ir ao local, e disse que procurou a filha por todos os dias até ela ser encontrada. A mãe afirmou que Daiane participava de grupos de danças na comunidade, e no coral da Igreja Evangélica.
Ela contou que pensa muito na menina, de quem lembra sempre que vê as roupas que ainda guarda consigo.
Interrogatório do réu
Depois de todas as testemunhas serem ouvidas, o réu foi interrogado por cerca de vinte minutos. Optou pelo silêncio parcial, e respondeu a perguntas da sua defesa e dos jurados. O acusado negou ter cometido os crimes dos quais é acusado. “Não tem nada que eu ficasse com medo. Não tenho participação nisso daí”, disse ao responder porque aceitou ceder material para o teste de DNA. Contou que conheceu Daiane na quinta-feira antes do dia dos fatos, ocasião que tomou cerveja com ela e teriam apenas se beijado e abraçado. “Foi só isso que aconteceu”.
Em relação ao sábado seguinte, disse que não esteve na Vila São João, local da festa, mas que estava em um acampamento numa barragem da região. “Não posso assumir uma coisa que não fiz”, disse o acusado.




Fonte: TJ-RS
Fotos: Juliano Verardi/DICOM-TJRS